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Foto do escritorCarolíngio

Santo Antônio de Pádua - História, Tradição, Festa

Atualizado: 16 de jun.

Santo Antônio de Pádua, também conhecido por sua cidade natal, Lisboa, é um dos santos e uma das personalidades medievais mais influentes e conhecidas no Brasil. Faz parte de um dos três grandes santos que compõem as festas típicas de junho. Conhecido por ser o “santo casamenteiro”, sua história e seus feitos vão bem além de uma fama popular que na realidade, não condiz com as oras do santo. Faz-se importante, antes de tudo, conhecer e estudar o contexto histórico e quem fora de verdade, Santo Antônio de Pádua.


Nascido em Lisboa, no ano de 1195, pouco tempo depois do fim da Terceira Cruzada (1192). A tradição indica que no dia 15 de agosto, de forma mais específica. Filho de Martino de Buglioni e Donna Maria Taveira. Era filho de nobres, foi batizado pelo nome de Fernando Martins de Bulhões. Outros alegam que seus pais eram Vicente Martins e Teresa Pais Taveira. Importante recordar, que sua família possuía posses e estava presente dentro de uma importante cidade da Península Ibérica.


Aos 15 anos de idade, entra na comunidade agostiniana da Ordem de Santa Cruz, na Abadia de São Vicente, nos arredores de Lisboa. Gostava da vida que levava, mas sentiu-se incomodado com as visitas de amigos Então no ano de 1212, mesmo ano da Batalha de Las Navas de Tolosa, que definiria o destino da Península Ibérica e mudaria a maré da Reconquista a favor da cristandade, Fernando transfere-se para Coimbra, para o Mosteiro de Santa Cruz, na época dos fatos, capital do Reino de Portugal.


Distante de Lisboa aproximadamente 230 quilômetros, agora com 17 anos, viveu em uma comunidade com cerca de 70 membros, por 8 anos. Graças a este período, teve acesso ao estilo de formação medieval do Trivium e do Quadrivium, clássico na formação humana da época. Fora nesta época onde o santo entrou em contato com o estudo de Sacra Doutrina (teologia) e latim. Seus professores eram importantes nomes dentro do Reino de Portugal e a biblioteca era um importante acervo para estudo.


Santo Antônio de Pádua por Giacomo Farelli

Mudanças e Desenvolvimento Intelectual e Espiritual


Os anos de estudo e convívio nos mosteiros de São Vicente e Santa Cruz, causaram grandes mudanças na vida de Fernando, não apenas psicológica, mas fisiológica também. Além disso, não apenas pelo convívio, mas pela vida de oração e preparação humana e intelectual da Idade Média, que transformava para sempre a vida dos homens que se dedicavam a vida acadêmica e religiosa.


Fernando é ordenado padre, com 19 anos de idade, em setembro de 1220. Logo em seguida, é apontado chefe da hospitalidade da Abadia. Este pequeno evento mudaria sua vida para sempre. Após receber um grupo de monges franciscanos, que erguem um eremitério aos arredores de Coimbra, dedicado a Santo Antônio, o Grande, um santo egípcio, dos tempos patrísticos, conhecido por ser o “Pai de todos os monges”.


Logo Fernando sente-se atraído pela vida dos monges: simples e evangélica. Era uma ordem nova, que havia sido fundada uma década antes, por São Francisco de Assis.


Um certo dia, notícias chegam em Coimbra de que monges franciscanos foram enforcados no Marrocos, enquanto estavam em missão. O Rei Alfonso II de Portugal paga resgate por seus corpos e os leva para serem enterrados como mártires e conferir enterro digno no Mosteiro de Santa Cruz. Inspirado por seus exemplos, Fernando obtém permissão da Igreja para sair do Cônego Regular e juntar-se a ordem franciscana, vestindo a túnica marrom dos franciscanos.


Adota portanto, o nome de Antônio, em honra e homenagem a Santo Antônio, o Grande, abandonando seu nome de batismo.


Parte então para o Marrocos, para seguir a sua vocação monástica e pregar aos mouros, mas acaba por adoecer no caminho e retorna para Portugal. No caminho de volta a sua terra natal, o barco é acometido por uma fortíssima tempestade que o tira de rota e desembarca na Sicília, onde permaneceria por dois anos.


Saindo da Sicília, Antônio parte para a Toscana. É apontado para um convento da ordem, mas ainda enfrentava dificuldades em função de sua saúde. É apontado ao convento de San Paolo próximo a Forlí, na Romagna, após ser notado por Frade Graziano em uma visita a Assis, durante um sermão. Graziano era ministro provincial da Romagna. Antônio ficou em uma cela, tempo em que usava para oração e estudo. Pode refinar a contemplação e ascética.


Antônio fora notado por sua postura, conhecimento das escrituras, coesão do discurso, voz e eloquência ao passar a mensagem aos ouvintes. Torna-se pregador da Romagna, conversava com o povo, atendia confissões, confrontava defensores de heresias pessoalmente em debates públicos.


O conhecimento de Antônio lhe conferiu um posto na Universidade de Bologna. Foi convidado a ensinar Sacra Doutrina (teologia). Por dois anos, ensinava verdades da fé básica ao clero e aos leigos que ocupavam as cadeiras de alunos. No ano de 1224, Frade Graziano encarrega Antônio os cuidados de todos os frades do mosteiro que buscariam estudo.


Também fora professor em duas universidades no sul da França: Na Universidade de Montpellier e a Universidade de Tolouse.


Seu método de ensino inclui leitura das Sagradas Escrituras, discussão e utilização de alegorias para explicar os textos sagrados.


Santo Antônio é o primeiro professor de teologia da história da Ordem Franciscana, ainda tão “jovem” desde sua fundação.


Em 1226, atende ao Capítulo Geral dos Franciscanos em Arles e prega na região de Provença. A França estava sofrendo com os problemas da heresia cátara em Tolouse, Aquitânia e nos arredores de Provença. É convocado de volta a Itália.


No ano de 1228, serve como emissário do Capítulo Geral ao Papa Gregório IX. Na corte do Papa, sua pregação mais uma vez é muito bem apreciada, sendo apontando como um grande pregador e é comissionado a produzir uma série de sermões, que ficariam conhecidos como os Sermões das Festividades. O Papa Gregório IX aponta Santo Antônio como “Arca do Testamento”.


Santo Antônio Lendo, Marcantonio Basetti


Pádua


Santo Antônio viaja para Pádua durante duas ocasiões: Em 1229 e 1230. A segunda vez, fora entre 1230 e 1231.


Durante sua estadia na cidade italiana, produziu mais importantes sermões. Tais obras imortalizaram-se e podem sem dúvidas, serem consideradas umas das maiores obras literárias e religiosas produzidas em Pádua durante a Idade Média, não pela ausência de produção cultural, mas pela grande capacidade e intelecto destacado do santo.


Com o tempo, a fama de Antônio passa a se espalhar. Peregrinos e religiosos passam a colocar a cidade no mapa, para ouvir seus sermões e o confessionário de Santo Antônio tornou-se um dos mais movimentados da Itália. Dois irmãos tentavam aliviar o fardo, mas geralmente a quantidade de pessoas sempre era alta.


Basílica de Santo Antônio de Pádua


Morte

No ano de 1231, Antônio adoece e retira-se para Camposampiero. Viveu com dois irmãos, que cuidavam do monge. Viveu em um pequeno quarto embaixo da sombra de uma nozeira. A sua situação começa a piorar então pede permissão para morrer em Pádua, que lhe é concedida.


É, então, carregado em um carro de bois. Em uma sexta feira, 13 de junho, no mosteiro de Arcella, a caminho de Pádua, Santo Antônio falece aos 36 aos de idade. Diz a tradição que respirou e murmura: “Eu vejo o meu senhor”. Dizem as tradições locais que no momento de sua morte, diversas crianças choraram e os sinos das igrejas locais começaram a tocar.


Foi sepultado na pequena igreja de Santa Mater Domini, onde servia de local de refúgio durante seu tempo em Pádua. Seu funeral reuniu pessoas de diversos locais da Europa, para que seu túmulo arca pudesse ser visto e tocado por diversos fiéis e peregrinos.


Morte de Santo Antônio, Antônio Buttafogo

Canonização e Santidade


Santo Antônio possui diversos milagres associados a sua santidade, além de sua ampla devoção, conhecimento e amor para Deus. Há duas histórias muito bem conhecidas sobre o santo e o trabalho de sua obra, sempre relacionadas a um dos maiores problemas religiosos do Mediterrâneo Sul: As heresias. Não seria por acaso, que Santo Antônio, seria conhecido por ser o “Martelo/Flagelo dos Hereges”.


A primeira, é a “pregação aos peixes”, em Rimini, onde Antônio fora pregar. Os hereges, pouco creditavam ou davam confiança a pregação do santo e sequer estavam dispostos a ouvi-la. Assim, por inspiração divina, Santo Antônio aproximou-se do rio e iniciou a pregar para as águas, a chamar os peixes. E assim, diz a tradição, que começaram a reunir diversos peixes, de todas as formas e tamanhos, colocando a cabeça para fora.


Milagre dos Peixes

Vendo tal milagre, os hereges dirigem-se a Santo Antônio pedindo-lhe um sermão também. Há um grande sermão a todos, inclusive aos peixes, a multidão de hereges é convertida e confessa seus erros ao santo e todos foram para seus caminhos: Os hereges para uma nova vida, o santo para seu trabalho apostólico na cidade, por onde ficou por vários dias pregando e auxiliando na reconciliação da fé católica e os peixes em direção ao mar.


Outro evento, é a confirmação de Cristo presente na eucaristia. Um homem, herege albigense, para irritar Santo Antônio, o desafiou a provar a presença de Cristo no sacramento eucarístico, após perder para Antônio em uma discussão. O homem trazia consigo uma mula, faminta, três dias sem comer e apresentará um coxo de aveia ao passo que o santo apresentaria a presença de Cristo. O evento foi em uma das diversas praças, muito comuns na organização urbana medieval que começava timidamente a reavivar as cidades, os centros urbanos e comerciais medievais.


Até no dia, o evento, rodeou católicos e cátaros, assim que Santo Antônio apresenta ao animal o Santíssimo Sacramento, que simboliza o pão da vida, o verdadeiro alimento, o animal apenas escutando a voz do Frade Antônio, prostra-se de joelhos para adorar.

Os católicos presentes explodem de alegria e o herege renuncia sua heresia, tornando-se mais uma alma conciliada.


Milagre da Mula

Há um terceiro milagre, menos conhecido mas não menos importante, também envolvendo os hereges albigenses. Diz a tradição que Santo Antônio havia juntado a um grupo de cátaros para jantar. Os hereges, conhecendo o clérigo, envenenaram a comida. Santo Antônio confronta os hereges, após confessarem que haviam tentado matá-lo. O santo abençoou a comida, citou Marcos 16:18 e então comeu. Nenhum mal lhe ocorreu.


Vale ressaltar que os milagres de Santo Antônio não se restringem apenas a três. Seu processo de canonização envolveu todos os milagres possível para formar um robusto conjunto probatório.


Sua canonização ocorre em 30 de maio de 1232, em Spoleto, na Itália, pelo Papa Gregório IX, onze meses após sua morte. Em termos canônicos, é uma canonização bastante rápida comparada a outros processos. Em 1946, foi declarado Doutor da Igreja pelo Papa Pio XII sob o título de Doctor Evangelicus.


Legado Cultural


Além do reconhecimento e da grande veneração que São Francisco de Assis possui dentro da cristandade católica, sua presença no legado cultural artístico é latente. São Francisco é uma das grandes figuras da arte sacra renascentista. Conforme a quantidade de frades franciscanos começam a aumentar, a arte arranja uma forma de distinguir São Francisco de Assis e Santo Antônio de Pádua.


Santo Antônio aparece segurando lírios, que representa a pureza. Pode aparecer com um coração flamejante ou com animais que compõem os seus milagres e o fortalecimento de sua tradição, retratando o evento da mula e a eucaristia ou o sermão aos peixes.


Ticiano, pinta afrescos em Pádua, na Scuola del Santo, importantes acontecimentos de obras que também fazem parte de sua vida: O Milagre do Marido Invejoso, A Criança Atestando a Inocência de Sua Mãe. Geralmente em alguns trabalhos também aparece com o Menino Jesus em seu colo próximo as Sagradas Escrituras.


Afresco de Ticiano

Festa


Seu reconhecimento, respeito e veneração como Santo são muito comuns na parte ocidental do Mediterrâneo, especialmente em Portugal e na Itália. Nos antigos territórios do Império Português, como herança cultural, a presença do santo é muito comum. No Brasil não seria diferente: São Francisco de Assis, como outros santos medievais, fazem parte diretamente do imaginário e da cultura brasileira.

 

Assim, podemos perceber a virtuosa e importante vida de Santo Antônio de Pádua: Uma vida repleta de grandes mudanças, onde o chamado a virtude e a santidade sempre fora presente, para chegar a plenitude da alma e alcançar a verdade e a salvação das almas. De nobre abastado a homem que serviu de corpo e alma ao serviço e a pregação.

 



Fontes:

COET, Pierre Eugéne. Miracles Historiques du Saint Sacrément, 3ª ed., pp. 170-172.


Vatican – Santo Antônio de Pádua.


SARRANT, Anald – Crônica dos Vinte e Quatro Gerais da Ordem dos Freis Menores.


vORAGNE, Tiago – Legenda Áurea

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