Crusader Kings 3, o último lançamento da Paradox Interative, lançou no dia 8 de fevereiro sua primeira grande expansão, Royal Courts. Nós, do História e Combate Medieval, não apenas jogamos esta novidade, como também vamos conversar um pouco de sua historicidade no medievo. Para os leitores que ainda não leram, confiram nossas impressões sobre o lançamento de Crusader Kings 3 em como de sua outra expansão, Northem Lords.
Para os amantes de jogos de estratégia, Crusader Kings pode e é considerado um dos melhores jogos do gênero que retrata o período medieval, conquistando de forma sólida seus títulos e uma quantidade de jogadores no seu segundo título da série. Reproduzir com exatidão as mecânicas, variedades e nuances da sociedade feudal nunca foi tarefa fácil, vide as grandes dificuldades que a televisão e o cinema encontram. Por outro lado, os desenvolvedores de jogo conseguem se sair muito melhor, criando não apenas uma imersão, mas uma lógica histórica por trás de um produto de entretenimento.
Nesta postagem, mostraremos um pouco mais para o leitor, a historicidade por trás do tema desta grande expansão: As cortes. Antes de tudo, devemos situar que as cortes, possuíam diferentes graus de complexidade e importância. Cada região tinha sua peculiaridade, alterando de acordo com as culturas, regiões e peso político de um determinado Estado. Não podemos esperar o mesmo grau de importância nas cortes de um simples Arão no sul da França com a de um influente e importante Arão do século XIII na Inglaterra. Além disso, faz-se imprescindível compreendermos a necessidade de observar o pacto feudal e as relações de vassalagem: do vassalo “menor” ao suserano. Neste sentido, as cortes tendiam a ficar cada vez mais complexas, movimentadas até se tornarem centros políticos, culturais e o principal local onde a política e diplomacia feudal era tratada.
Vamos separar a análise em três divisões: Cortes da cristandade, cortes do mundo pagão e cortes do mundo islâmico.
Cristandade Ocidental
Sem dúvidas, até o presente momento, Crusader Kings 3 possui um bom foco nos Estados medievais das cortes cristãs católicas e no mundo pagão germânico e escandinavo.
Sacro Império Romano Germânico: O Sacro Império Romano Germânico era uma estrutura de Estado extremamente complexa e dinâmica. Efetuar comparações da estrutura imperial germânica com a estrutura imperial bizantina/romana, em diversas situações acaba por ser descabido ou até anacrônico. Desde sua fundação, com Carlos Magno, seu reaparecimento com o Sacro Imperador Otto I, suas instituições foram se alterando e se adaptando a realidade em que a cristandade germânica vivia.
Seu sistema de sucessão era eletivo, graças a crise de sucessão instaurada no ano de 1002. Os votos eram feitos pelos Príncipes Eleitores, uma inspiração retirada diretamente ao passado das confederações e tribos do homem germânico. É um contraste imenso comparado ao seu passado dinástico, mas de Lex Salica, que levou a sua fragmentação e declínio do período e do Império Carolíngio.
Governar o Sacro Império Romano Germânico não era tarefa nem um pouco fácil, pois não possuía uma constituição própria, neste caso devemos afastar todo e qualquer pensamento do dito constitucionalismo moderno iluminista, mas sim aproximar-se da realidade das leis medievais, como a Carta Magna de 1215, por exemplo. Era extremamente descentralizado, muitas vezes seus próprios Príncipes Eleitores lutavam entre si, disputavam poderes e graças ao sistema eletivo de escolha do Sacro Imperador, a corte imperial alterava de região de acordo com as eleições.
Entretanto, o Sacro Imperador não era um refém de diversos senhores feudais “independentes” que compunham o Sacro Império. Era uma instituição descentralizada, mas não caótica. As Cidades Livres, respondiam diretamente ao Sacro Imperador, por exemplo.
Apenas no século XIV, a Bula de Ouro de 1356, irá criar uma estrutura de Estado que regulamenta algumas questões. Elege Frankfurt como a Cidade Imperial para as eleições, os Príncipes Eleitores passam a ser 7 membros e terão 30 dias para escolher o futuro sucessor do Sacro Império, sob possibilidade de ficar apenas com pão e água caso a matéria não seja resolvida com celeridade. Cada Príncipe Eleitor possuía uma importante função na corte.
O Sacro Imperador tinha o dever e obrigação de julgar as leis, resolver as disputas e servir como juiz em lide de vassalos, apontar oficiais imperiais, certificar-se do cumprimento e do bom funcionamento das engrenagens imperiais, possuía o privilégio de legitimar filhos bastardos, cunhar moedas (prerrogativa que passa a ser principesca a partir do século XII quase em toda Europa), fundar minas, convocar as bandeiras imperiais e coletar os impostos de cada vassalo e cidade livre. Como contrapeso, não poderia impor ou criar novos impostos, iniciar uma guerra ou interferir nas Dietas Imperiais sem o consentimento e aprovação do conselho.
Toda esta volatilidade, dinamismo e descentralização tornam a estrutura de Estado dinâmica e deixam a corte imperial como um dos objetos mais complexos de se estudar. Podemos dizer que cada dinastia que sentou no trono imperial e cada local em que a corte se moveu, possuiu um modus operandi. Em suma a corte iria utilizar sua autonomia e descentralização a seu favor, seja para lidar com os assuntos internos, suas próprias disputas e no grande jogo de políticas e intrigas envolvendo o Estado e a Religião, como por exemplo os jogos de intriga e corte da Controvérsia das Investiduras e a relação do Sacro Imperador e Matilda da Toscana.
Repúblicas: As Repúblicas Mercantis ainda não foram alvo de um trabalho detalhado da Paradox Interative, mas podemos perceber que como no título anterior e observando a evidente importância das repúblicas no medievo. Vamos listar aqui algumas: Na Itália temos a Veneza, Gênova, Pisa, Ancona, Amalfi; Ao norte temos duas importantes repúblicas: Uma na Escandinávia, em Visby na Ilha de Gotland e a Liga Hanseática, um conglomerado de cidades mercantes dentro do Sacro Império Romano Germânico que a partir do século XIV irão se juntar para desenvolver suas relações mercantis no Mar do Norte.
As Sereníssimas Repúblicas de Veneza e Gênova merecem um cuidado especial. As cortes venezianas e genovesas eram compostas por famílias patrícias e posteriormente burguesas que cuidavam de uma minuciosa administração do Estado. As cortes compunham um rico e complexo sistema que formavam o Senado. Podemos dizer que a corte veneziana era o Estado que mais possuía um sistema de freios e contrapesos tanto quanto as demais repúblicas em como os Estados feudais.
O Grande Conselho era composto por homens livres, mercadores e nobres/patrícios. Deste conselho, abre-se o leque para propor leis, discutir políticas e ser eleitos nos demais conselhos, que ficavam cada vez mais restritos e próximos ao Doge. Em Veneza, há um simbolismo muito grande com sua formação e estruturação do Estado. O “Conselho dos Seis”, representa cada distrito da cidade e possui uma função direta com o Doge. Cada conselho possuía uma prerrogativa e obrigações e a figura do Doge era bem diferente do que compreendemos como qualquer nobre presente dentro de um Estado feudal, principalmente um soberano.
Península Ibérica: Ainda também não fora objeto de trabalho diretamente dos desenvolvedores, mas sabemos que havia uma forte presença cristã na Hispania durante o Reino Visigodo. Após a invasão bem sucedida dos mouros e a vitória de Don Pelayo na Batalha de Covadonga, tradicionalmente inicia-se o período da Reconquista.
Com a formação dos reinos ibéricos de Castela, Leão, Pamplona (futuramente Navarra) e Aragão, podemos perceber uma sucessão de eventos presentes que moldaram e criaram a Península Ibérica como conhecemos. A relação entre cristãos e mouros nem sempre era belicosa, de fato, mas era necessário manter sempre importantes vassalos que estavam habituados com esta natureza guerreira por perto. Podemos perceber isso após o sucesso político e militar de Fernando I, o Grande de Leão e a ascensão histórica e real da figura de Rodrigo Díaz de Vivar, dentro da corte castelhana e posteriormente leonesa, com quem teve grande rivalidade e atritos políticos e militares com o Conde Ordoño de Leão.
Naturalmente, nem sempre de guerra vivia o homem ibérico. Podemos ver isso nos diversos trabalhos e especificidades que renderam as criações dos fueros da Coroa de Aragão e do Reino de Valência, da organização do Reino de Portugal e das maquinações dinásticas de seus duques que causaram preocupações suficientes ao rei por ser de um ramo paralelo a Casa Real, bem como no século XIII, a famosa corte de Alfonso X, o Sábio, que sua corte, famosa por sua música, poesia e erudição, produzem as imortais Cantigas de Santa María, mais de quatrocentas composições.
França: Era um dos reinos mais ricos da cristandade ocidental. Por um longo tempo, a nobreza francesa medieval gozava de grande autonomia, mas o poder em Paris não era ausente. O poder régio se fazia presente de outras formas. O modelo do feudalismo francês é um dos modelos mais conhecidos, assim junto do inglês e muitas vezes confunde as pessoas. Costumamos de forma errônea, transferir a realidade francesa para todo o ocidente medieval.
O Conselho do Rei, a instituição mais importante da corte, era composto de importantes nomes que auxiliavam o Rei da França em governar as terras. Vale ressaltar, que a França possui casos muito curiosos. Não era difícil, encontrarmos vassalos extremamente poderosos, como por exemplo os duques. Nos momentos de maiores fraquezas da França, como nas horas mais escuras da Guerra dos Cem Anos, alguns Duques tinham um poder e uma influência similar ou até maior que o rei. Quanto maiores eram as fraquezas da coroa, mais o conselho podia usar a instabilidade a seu favor como um todo e aos favores pessoais.
Era composto pelo Senescal, que cuidava das finanças e da intendência financeira, o Condestável, que era o comandante das forças do reino, abaixo apenas do próprio Rei, o Chanceler, que cuidava dos assuntos da diplomacia e agia como um juiz de alta corte, o camareiro era uma posição de prestígio, pois cuidava dos aposentos do Rei, logo era uma pessoa muito próxima ao rei e outros espaços na corte compostos por nobres e clérigos poderosos.
Inglaterra: A corte inglesa mudou bastante ao longo do tempo. Até sua unificação e criação do Reino da Inglaterra em x, existiam dos séculos V ao VIII, o que conhecemos como Heptarquia: Wessex, Anglia Oriental, Sussex, Nortúmbria, Kent, Essex e Mercia. A Inglaterra era dividida entre 7 reinos distintos, onde cada Rei tinha seu conselho, o Witenagemot. Dois Witans mais importantes e icônicos da Inglaterra são dos reinos de Alfredo, o Grande, responsável por segurar, administrar e desenvolver os anglo-saxões mesmo em meio as diversas invasões danesas e do reinado de São Eduardo, o Confessor e Haroldo Godinson, que levaria aos acontecimentos fatídicos do ano de 1066.
A corte era composta por nobres, sendo ele condes ou thegns, clérigos e membros da família real. O Conselho tinha as prerrogativas de escolher o sucessor (monarquia eletiva), depor reis em casos de extrema necessidade e até tomar conta do Reino. Com a unificação inglesa, o Witan une as antigas coroas da Heptarquia, transformando-as em condes com prerrogativas especiais com os demais nobres. Vale ressaltar que estes títulos não eram hereditários.
Guilherme, o Conquistador muda mais uma vez o cenário. Os normandos passam a tomar conta da Inglaterra, o Witenagemot é abolido e os antigos condes do Witan são transformados em condados do estilo normando.
Cortes Orientais
Império Bizantino: Os romanos medievais ou bizantinos, possuíam um estilo de corte extremamente específico. A corte bizantina era repleta de simbolismos e o Imperador de Constantinopla buscava a legitimidade a todo momento. Para isso, precisava de um conselho e de uma corte que fossem dignos para administrar o Império.
A corte bizantina estava repleta de corrupção, o que traz a tona muitas vezes a instabilidade vivida pelos gregos e romanos diante das diversas guerras civis e dos clamantes ao trono imperial. Os membros da corte, gozavam de salários pagos pelo erário, presentes para manter sua lealdade. Em contrapartida, as casas faziam alianças, buscavam assentar sua presença na corte e até aspirar ao poder.
O Basileus ainda tinha de provar seu favor com feitos militares. Uma característica típica bizantina era levar em certas ocasiões nas campanhas militares toda a família real e seus melhores conselheiros. Em caso de derrota, o caos estava instaurado e o poder central em Constantinopla criava um grande vácuo.
Os caros do conselho que davam corpo a corte bizantina era o prefeito, importado desde os tempos romanos, que agia como um juiz de suprema corte, o Quaestor estava no encargo de cumprir vontades políticas dentro da lei imperial, o Parakoimomenos era um camareiro imperial, como discutimos anteriormente e o Sakellarios, que agia como um grande fiscal e conselheiro. Podemos ver diretamente a união das antigas com novas instituições, da junção do mundo romano com o grego medieval.
Eslavos: Os povos eslavos não foram um foco nesta expansão de cortes reais. Devemos lembrar que a cristianização da ortodoxia oriental, apesar de se basear em um sistema de patriarcas descentralizados, basicamente cada Príncipe possuindo um patriarcado, podemos observar uma importante característica dos povos eslavos, que adotaram a cristandade ortodoxa. Há uma presente mistura de sua cultura local, de raízes pagãs do politeísmo eslavo com a influência ortodoxa. Note-se que não estamos comentando aqui de falsas conversões, pelo contrário, são elementos meramente culturais, como por exemplo a influência de cultura nômade no Reino da Bulgária ou de elementos antigos eslavos com a presença de arquitetura bizantina na Kiev de Rus.
Mundo Islâmico
Califado Omíada: O Califado Omíada foi um importante Estado do Oriente e posteriormente do Ocidente. Trataremos especificamente de sua presença na Península Ibérica, uma vez que na região do Oriente Médio, falaremos da importância de Bagdá e das estruturas dos Abássidas.
Assentando-se na cidade de Córdoba, o Califado Omíada foi organizando seu Califado na Península Ibérica de forma adversa ao modelo oriental. O palácio em Córdoba foi construído exatamente para impressionar e mostrar o poder e a força do Califa, a riqueza do califado e sua força como presença tanto na Península Ibérica para os reinos cristãos bem como aos Abássidas. Curioso mencionar que a suntuosidade da sala do trono é um feito que impressiona todo viajante, servos do Califado, pessoas que puderam estar presentes.
O Califado Omíada era famoso por poder reunir os mundos na Ibéria. Tinha cristãos e judeus em vários cargos, inclusive os maiores de sua confiança. A corte tinha uma curiosa mistura de estilo persa com as interações dos povos locais, o que tornou o Califado único. O Califa era uma figura que aparecia pouco em público, apenas em eventos importantes. Sua estrutura e administração era dividida entre a Casa Real, no qual comandava os exércitos e os assuntos mais importantes, a Chancelaria tinha a figura do hajib como um segundo em comando e o Wazir um conselheiro qualquer, grande contraste com o mundo islâmico. A Casa das Finanças cuidava de todo e qualquer assunto financeiro.
Esta estrutura de “reclusão” do Califa com o resto de seus domínios, criando uma mistura de burocracia estruturada com costumes locais variando da região da Península Ibérica, acabou provando ser boa e catastrófica ao mesmo tempo. Caso as intrigas provassem ir longe demais, o Califa e o palácio ficariam isolados, rendidos a mão de um hajib ou de um grupo de conselheiros. Com o tempo, o título de Califa foi perdendo a importância e a estrutura do Califado desmoronou, criando uma série de pequenos Estados independentes, algum que inclusive chegariam a pagar tributos aos reinos cristãos, os Taifas.
Califado Abássida: Inicia-se após o sucesso em uma revolução, a Revolução Abássida, que visava colocar abaixo toda a antiga ordem do califado anterior (Omíada) e reestruturar o mundo islâmico. Para isso, os abássidas fundaram a cidade de Bagdá, situada em um grande cinturão fértil que conseguia ligar a cultura, viajantes, comerciantes e bens dos três mundos: África, Europa e Ásia. Logo, Bagdá se tornou um grande centro cultural, comercial e uma referência no mundo islâmico, principalmente não apenas com o projeto arquitetônico, mas com todo seu conhecimento guardado, a famosa Casa do Conhecimento.
A Corte Abássida era um local movimentado. Basicamente era um lugar disputado entre os melhores escribas e conselheiros de todo o reino. Naturalmente, era um lugar perigoso até demais, para aqueles que não estavam acostumados com os jogos de política e intriga. As famílias mais poderosas tomavam os locais mais importantes do Califado, podendo até influenciar diretamente a figura de governo do Califa. Sua estrutura era dividida em três partes: Chancelaria, responsável pela documentação e organização de todos os documentos oficiais de Estado; A Intendência de Impostos cuidava de todas as finanças e receitas; E os “Desembolsos”, uma organização jurídico administrativa que se obrigava a arrecadas e desembolsar custos ao exército, cortes, obras e projetos do Califado. Estes três complexos ramos eram supervisionados pelo Wazir, o segundo homem em comando de importância oficial que respondia diretamente o Califa.
Esta estrutura complexa do Califado Abássida estava presente em todas as diversas regiões territoriais. A corte do Califa era extremamente movimentada, no século IX, chegando a conter mais de 500 membros apenas na função de escribas, isso sem contar o harém, demais importantes funções, guardas e os títulos honoríficos que se tornam uma boa fonte de renda ao Califado, mas também será alvo de criticas. As funções no Estado Abássida eram conhecidas pelos “homens da espada e os homens da pena”.
Pagãos
Politeísmo: Crusader Kings geralmente possui uma grande quantidade de jogadores que jogam com Estados e casas do paganismo germânico e suas variações escandinavas. Royal Court não possui um foco grande nas cortes e nas regiões de paganismo europeu, uma vez que a pequena expansão anterior, Northem Lords é focada exatamente no desenvolvimento destes povos.
Nômades: Outra grande vertente de jogadores é seu foco em jogos de povos nômades. Cázares, pechenegues, cumanos e mongóis são os preferidos dos jogadores. Oras, o Império Mongol, do famoso e lendário Gengis Khan, possuiu uma estrutura complexa. O próprio “Grande Khan” imortaliza a frase alegando que lutar e conquistar era “fácil”, mas que “descer do cavalo e governar que é difícil.”
Como funcionava uma corte mongol? Os nômades no geral, sejam eles das mongóis, turquicos, dentre outros, possuem uma grande tenda (ger) onde se encontra o Khan. Não era uma tenda comum. Possuía um trono, no estilo dos tronos nômades que parecem um “banco longo”, sempre em local mais elevado, e está repleta de tapetes, ouro, jóias, especiarias e seda, demonstrando a riqueza, força e poder daquela horda. Apesar de sua capital tradicional, no começo do Império Mongol em Karakorum, a corte andava com o Khan. Era uma importante função e obrigação do Khan andar com toda a corte, para manter a ordem e aplicar a justiça entre seus súditos e os tributários.
No Império Mongol os principais membros da corte eram os guarda costas (keshigs). Eram responsáveis por administrar o Império, cuidados dos bens e das posses pessoais do Khan. Para evitar que Karakorum ficasse vazia e em função da permanente viagem do Khan, um corpo administrativo, liderado por um intendente (cherbi), escolhido e organizado por homens de grande confiança dentre conselheiros e os guarda costas do Khan. Havia uma preferência por turquicos, mongóis, uigures, persas ou quitans. Com o passar do tempo, os mongóis foram aprendendo que as terras pagando permanentes tributos, valiam mais a pena do que a terra arrasada.
A movimentação da corte era literalmente uma cidade em movimento. Diversos animais, famílias, cavalos, animais de pastoreio e todos os objetos que levavam consigo viajavam. Carroças intermináveis escoltadas pelas hordas e cuidadas por todos.
Após a morte de Gengis Khan, a terra começou a seguir a lei por tradição dos povos das estepes: Uma vez que os domínios mongóis faziam parte das posses da Casa de Gengis Khan, as terras passaram a ser divididas entre seus filhos que herdavam inclusive os tributários. Um grande conselho, Kurukultai era organizado para escolher o sucessor, com muita festa e discussões. Isso contribuía para uma “permanente” expansão, mas requeria uma administração específica para suas realidades. Isso foi abrindo espaço para a criação de diversos ramos do antigo Império Mongol – Horda Dourada, Ilcanato, Chagatai e o Império Yuan.
Veredito
A primeira grande expansão, Royal Courts, vale a pena ser jogada. Vimos nesta postagem em um viés mais histórico, para compreendermos a imersão a ser feita pelo jogo, diante da realidade vivida pelo homem medieval. Diante destas considerações, podemos afirmar que Royal Courts faz mais do que jus ao sua merecida espera e entusiasmo da comunidade: Trouxe uma nova vida para o jogo, reviveu importantes sistemas do título anterior como o sistema de artefatos e ainda traz ao jogador a sala do trono. Única diferença e vale salientar, que o jogador pode apenas acessar a sala do trono se estiver jogando com um rei ou imperador, lembramos que duques, condes, viscondes e barões haviam suas cortes pessoais, em proporções bem menores e com bem menos intrigas de acordo com sua realidade histórica, econômica e geográfica.
Desta forma, Royal Courts entretém, convence e nos faz querer compreender melhor o sistema de culturas, fator importante e até decisivo diante de algumas relações no medievo, como por exemplo a relação entre os francos, normandos e bizantinos, franceses e gregos, germânicos e eslavos, ibéricos dos reinos cristãos e taifas islâmicos. Crusader Kings é uma franquia que pode criar todo este gelo e grande críticas que mesmo com suas diferenças históricas e suas devidas correções, que é possível unir a história, precisão histórica e entretenimento, sem criar um universo paralelo que altere a história ou a percepção histórica sobre a Idade Média.
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