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São Pedro - História e Tradição

São Pedro é uma das figuras mais importantes do Cristianismo com sua história repleta de fé. Desde a figura do simples pescador até sua total conversão, assumindo o compromisso como o primeiro Papa e partindo para Roma para ser martirizado e mudar definitivamente a história do Cristianismo.


 

Pesca, Fé e Chamado 

Simão era um pescador da Galileia, nascido em Betsaida. Analisando o contexto histórico em que está inserido, a vida de pesca na região do Levante era uma atividade ingrata. A região desértica, somada a atividade de pesca pesada, que exige um grande esforço físico, desgastava muito o corpo dos indivíduos. O mar da Galileia era uma região onde se podia viver da pesca, sem grandes riquezas ou luxo mas, por meio de um trabalho honesto, se garantia o sustento da família e contribuía para o comércio de suprimentos regionais.


Entretanto, Simão não estava destinado a viver da pesca de peixes somente e acabou por se tornar um pescador de homens.


Pedro estava com seu irmão, André, pescando, como era usual, quando Jesus se aproximou dos dois e lhes disse: “Vinde até mim e eu vos farei pescadores de homens.” (Mt 4:19-20)


O Evangelho de São Lucas nos ensina que Cristo utilizava o barco de Pedro, ainda Simão, para pregar para as multidões no Mar da Galileia.


A história de Pedro muda drasticamente desde então. Passa a conviver com Cristo escutando e acompanhando seus ensinamentos. Em três anos, Pedro estava mudado. Ainda havia muito para amadurecer, como pessoa e na fé, mas Pedro já demonstrava uma liderança entre os apóstolos.


Foi em Cesaréia de Filipe, que uma grande mudança ocorreu. Jesus pergunta aos apóstolos: “E vós, quem dizeis que eu sou?”, Pedro afirma: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”.


Duccio di Buonisegna (1308 - 1311)
Duccio di Buonisegna (1308 - 1311)

 

A Pedra e o Papado

Assim, ocorre um dos eventos mais importantes da história do Cristianismo. Simão, torna-se Pedro: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mateus 16:18).

 

E Cristo entrega a Pedro a chave dos céus. Que tarefa árdua e complexa mas recompensadora que Pedro assume naquele momento até seu último suspiro, já em Roma. “Tudo o que ligares na terra será ligado nos céus e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 18:18).


Simão, ao tornar-se Pedro, assume um compromisso e um ato de amor além do que imaginava naquele momento. Pedro, em verdade, vai levar anos para compreender a missão que Cristo lhe passou. E é exatamente este ato de fé que configura a caminhada de fé de cada cristão.


O amor que Cristo esperava de Pedro deveria migrar de “philia” para “ágape”, ou seja, um amor fundado pela fé, de forma profunda, muito além de um amor de amizade, material.


A Negação: Pedro ainda temia o martírio. Ouviu o chamado, mas precisava amadurecer na fé e compreender melhor a tarefa que lhe havia sido instituída. Cristo havia dito que Pedro o negaria três vezes. O apóstolo, ainda não estava preparado para dar a vida pelo Senhor.


Nega ao ser reconhecido por uma criada, depois por dois homens desconhecidos. Neste mesmo instante, o galo canta. Chorou amargamente ao lembrar-se das palavras de Cristo.


Nesta simples mas forte passagem bíblica que nos retrata a Paixão, podemos perceber como a ação de Pedro ainda é imatura e, muitas vezes, enquanto indivíduos, temos uma atitude parecida.


Quando Jesus ressuscitou e apareceu aos discípulos nas margens do mar da Galileia, pergunta a Pedro três vezes se o apóstolo o amava. Pedro responde de forma positiva.


Foi uma forma de curar o remorso no coração de Pedro. Logo em seguida, pede a ele: “Apascenta as minhas ovelhas”. Esta Igreja nascente, precisava da figura de Pedro como um grande líder, apóstolo e evangelizador.


A negação de Pedro, Caravaggio, c. 1610
A negação de Pedro, Caravaggio, c. 1610

Pentecostes: Após o Pentecostes, Pedro assume a tarefa e o papel de líder e evangelizador que a Igreja tanto precisava. Passa por diversos lugares, animando e exortando os fiéis, espalhando a palavra de Cristo, que era vista como um bálsamo na vida das pessoas.


Sua autoridade enquanto líder da Igreja nunca foi contestada ou sequer questionada. As chaves, que Pedro recebe do próprio Cristo, assumindo sua postura como Papa, mostra a importância do apóstolo para os primeiros anos da difusão do Cristianismo.


Exerce um episcopado em Antioquia, uma das maiores cidades do Levante: muito movimentada, um grandioso centro de comércio e uma cidade que além de populosa para os moldes da época, tinha uma grande quantidade de transeuntes devido ao comércio. Pedro pregava destemidamente o Evangelho. Enquanto isto era motivo de alegria para uns e suas palavras, inspiradas pelo Espírito Santo, estava mudando diretamente a vida de muitos; para outros, Pedro era um impostor e inimigo local mas, mesmo assim, isto não o impediu de exercer sua missão.


Retornou para Jerusalém onde foi preso. Deus enviou um anjo, que o libertou e o primeiro Papa, milagrosamente, presidiu o Concílio de Jerusalém, como a tradição e as Sagradas Escrituras nos mostram, presentes no livro dos Atos dos Apóstolos, capítulo 15.


O Concílio de Jerusalém debateu se os convertidos que não eram de origem hebraica, deveriam seguir rigorosamente a Lei de Moisés, os dez mandamentos e os costumes legalizados pela lei hebraica. É organizado então o Decreto Apostólico: os dez mandamentos são observados por seu peso diante da fé e algumas regras, subsidiárias aos Dez Mandamentos, que contam mais como um norte moral e não uma característica da cultura hebraica, serão mantidos. O resto não será tópico da salvação dos gentios.

 

Jacopo de Cione, 1370-1371
Jacopo de Cione, 1370-1371

Roma

Superadas as questões do Concílio de Jerusalém, Pedro partiu para Roma para exercer seu episcopado na capital do Império Romano. A Igreja passa a crescer, se organiza aos poucos. Mesmo com as perseguições, os fiéis aumentam. A cada pessoa que era martirizada, surgiam mais seguidores. O Império estava sob o governo do imperador Nero, que governou de 54 a 68 d.C.


Para entendermos a execução de Pedro, podemos efetuar uma breve leitura de como estava o império.


Nero logo deixa claro sua natureza autocrática e insana de governar e administrar. Mesmo tendo conselheiros como Sêneca e Burro, homens extremamente competentes, logo choques - como a execução de senadores e outros nobres - se tornam corriqueiros, a ponto de assassinar sua própria mãe.


A economia romana tampouco ia bem. Enquanto grandes obras públicas eram feitas para maquiar a realidade, um grande esforço para melhorar a imagem do imperador era feito. Confisco de bens de nobres e inimigos políticos do imperador e desvalorização da moeda tornaram-se consequências de seu reinado.


Após o incêndio que ardeu e devastou durante seis dias a capital no ano de 64 d.C., Nero colocou a culpa nos cristãos e a perseguição, que já era uma realidade dentro das comunidades cristãs, tornou-se ainda pior. Torturas ficaram ainda mais brutais.


Durante a primeira perseguição oficial aos cristãos, Pedro é capturado e preso. Logo, os romanos descobrem que Pedro era muito além de mais um cristão: tratava-se do líder da Igreja. Seu destino estava selado.


Orígenes e Eusébio de Cesaréia, por meio da tradição patrística, nos escrevem que o apóstolo e Papa, pede aos romanos para ser crucificado de cabeça para baixo, pois não se considerava digno de morrer da mesma forma que o Senhor Jesus Cristo morreu.


Levado ao Monte Vaticano, onde havia o Circo de Nero, em um espetáculo sangrento, Pedro foi crucificado de cabeça para baixo. Seu ato de amor junto de sua grandiosa missão estavam cumpridos.


Crucificação de São Pedro, Caravaggio, 1601
Crucificação de São Pedro, Caravaggio, 1601

Quo Vadis, Domine?

Este lendário e belíssimo momento, nos mostra um pouco de história, tradição e fé diante das dificuldades da vida.


Durante as perseguições de Nero, com toda sua brutalidade e materialização da loucura e ira contra o Cristianismo, Pedro decide deixar a cidade. Ao passar pelos portões e chegar na Via Apia, a via mais importante do império, Pedro observa Cristo caminhando em direção a cidade.


Pedro então pergunta: “Quo Vadis?” (aonde vai?) Cristo responde: “Romam eo iterum crucifigi.” (vou para Roma ser crucificado de novo).


Domine quo vadis? Annibale Caraci, 1602
Domine quo vadis? Annibale Caraci, 1602

Encorajado pelas palavras do Senhor, Pedro retorna a cidade para continuar seu ministério e bispado. Pouco tempo depois, seria preso e martirizado.


Os restos mortais de São Pedro foram levados em uma Necrópole próxima. A devoção ao primeiro Papa começa muito cedo. Durante o reinado de Constantino, no século IV, é construída a primeira Basílica de São Pedro.


Os ossos de São Pedro atualmente estão conservados no Vaticano, em uma urna de mármore, exatamente sob o altar papal da Basílica de São Pedro, agora a nova. Temos aqui um exemplo fortíssimo dos indícios e atos comprobatórios da arqueologia, fé e tradição.


A data tradicional do dia de São Pedro é em 29 de junho.

 

São Pedro, Pedro Paulo Rubens, c. 1610
São Pedro, Pedro Paulo Rubens, c. 1610

 

Fontes

Bíblia Sagrada - Edição de Jerusalém

Catholic Encyclopedia

Contra as Heresias – Santo Irineu de Lyon

Eusébio de Cesareia, Historia Eclesiastica

Legenda Aurea – Be. Jacopo de Varazze

Liber Póntificalis

 
 
 

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