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Platão e a Educação

Adentrar no estudo histórico e filosófico dos grandes filósofos, envolve um esforço conjunto de trabalhar as duas matérias de acordo com o fim esperado. O História e Combate Medieval, buscará trazer uma compreensão sobre o pensamento do filósofo Platão acerca da educação enquanto estrutura social e filosófica.


Grécia e Educação


O sistema de educação do mundo grego não era unificado, mas em suma, havia uma característica muito notável dentre os gregos era a existência do estilo da filosofia dos sofistas. De imediato, devemos notar duas coisas: O termo sofista aqui não se remete ao termo moderno, estritamente pejorativo ao que a palavra acabou criando uma conotação e o mentor de Platão, Sócrates, foi um grande opositor a este sistema de educação sofista.


Sócrates tinha uma grande diferença filosófica ao sistema de educação sofista: Não acreditava que a educação poderia ser arraigada nos pilares do sistema de conhecimento tradicional (sofista) puramente, ou seja, deve ir muito além da preparação humana para determinados desafios exigidos pela sociedade grega, por exemplo, o destaque na retórica, que era uma das grandes características por quem os sofistas eram conhecidos.


Indo além, a educação e a compreensão não deve ser rasa. Precisa transpassar as barreiras apenas dos objetivos e humanos e levar ao “amante do saber” um profundo conhecimento acerca da natureza da realidade. Aqui, entra a figura do filósofo, que terá uma função social e crítica nos cidadãos, criando responsabilidades enquanto seres e profundas reflexões.


Platão, seguindo o passo de seu mestre, não ficou longe e percebeu o grande problema em que existia dentro do cerne da educação sofista. Devemos lembrar que o contexto inserido do filósofo, é uma Atenas, que vive em uma democracia baseada e pautada nos moldes da obtenção da cidadania ateniense, mas como podemos perceber inclusive nos trabalhos de Aristóteles, em sua obra “A Constituição de Atenas”, a forma como o Estado Ateniense é organizado e suas instituições e na formação de seus cidadãos, é uma democracia, com largas características oligárquicas e muito próxima de uma tirania.


Não seria atoa, que a forma como Sócrates cria e desenvolve seus trabalhos e argumentos, instigando as reflexões nos cidadãos atenienses, criaram um clima de desconforto nas maiores autoridades de Atenas de seu tempo.


Platão e seus pupilos na Academia de Atenas. Mosaico Romano de uma Villa, Pompéia, Séc. I a.C.

Educação Platônica


Se por um lado Sócrates tece tais críticas ao sistema educacional sofista, o que Platão faz? Mantém apenas as críticas ou ainda aumenta seus argumentos? Platão começa exatamente observando o cidadão enquanto ser e como um cidadão de seu tempo, abastado, com condições financeiras boas para seu desenvolvimento intelectual e ainda por cima sendo um dos maiores pupilos de Sócrates, expande seus pensamentos.


Irá desenvolver inclusive um sistema educacional que observa o cidadão em uma “ascensão da mente”, assim por dizer. Ou seja, não basta apenas manter-se de forma estática em estudos literários e retóricos, que iriam no máximo formar um cidadão com capacidade argumentativa, com conhecimentos legais e dos clássicos gregos para torná-lo um bom político e praticamente um manipulador político e social, criando malabarismos dialéticos na Agora.


A verdade deve ser atingida, para Platão. Para isso, deve ser procurada por meio dos estudos matemáticos e científicos. Observa-se opiniões populares, tradicionais bem como aquilo que a sociedade compreende como conhecimento e com base nos princípios da verdade, cria-se reflexões profundas acerca do tema.


A República: Em seu grande trabalho “A República”, Platão traz a mesa três habilidades distintas do ser humano, com base na observação.


A habilidade da razão, em que todo homem busca uma boa vida, ou seja, a razão neste caso é a habilidade em reconhecer o que é bom ou não.


O apetite, apresentado como uma habilidade humana, nos traz a noção dos desejos do corpo, em uma interpretação extensiva, aos desejos da carne puramente, o que leva ao capricho e o apetite dá ao homem a noção de um ato livre, um arbítrio.


Sendo a terceira e última habilidade a noção do homem de saber ponderar as decisões da razão, sobre o que vem a ser bom ou não, diante dos apetites, ou seja, uma habilidade em que o homem tem de forçar as decisões da razão, criando portanto uma conformidade com seus atos.


Platão traz esta ideia e a desenvolve na República, apontando-a como um método base para a constituição do ser enquanto cidadão e por consequência uma alteração, reforma do Estado. As funções para a constituição da sociedade e seus cidadãos também são apontadas.


Começa com o empenho mais racional para a função de legislação; Os seres “predominantemente espirituosos”, caracterizados como aqueles que conseguem basilar as decisões da razão sobre o bem e ainda força-las e o apetite para administrar a economia. Platão desenvolve estes conceitos em ordem, criando naturalmente sua importância.


Separa inclusive uma boa parte de sua obra para desenvolver o que seria melhor caracterizado seu conceito de justiça. Afinal, de nada adianta a organização de um Estado com bons cidadãos se não houvesse justiça. Para Platão, a justiça pode ser caracterizada como uma grande harmonia, ou seja, a não interferência de nenhuma das partes que constituem o Estado ou de nenhum de seus poderes, tomando para si funções extraordinárias que não fazem parte de suas funções que resultem em interferência e instabilidade.


Ainda, para que cada cidadão conseguisse ter uma boa formação dos valores, conseguindo obter uma boa percepção da realidade em que vive, a educação também deveria contar com ensino militar, ciência e dialética. Importante ressaltar aqui que Platão reconhece a importância da dialética mas não desenvolve muito acerca do tema, uma vez que um de seus principais problemas seriam os sofistas, mestres na argumentação e dialética.


Cada estudante deve ser testado para que as habilidades que “dominassem sua alma”, fossem fatores determinantes para designá-lo a funções, estudos e aprimoramentos das habilidades em que este mostrou-se apto. Este processo seria feito em cada classe e em cada cidadão da sociedade. Com isso, de acordo com o filósofo, o Estado teria indivíduos bem alocados e assim a harmonia seria uma realidade.


Moral: Para Platão, a educação possui um forte caráter moral. É impossível falar em educação sem auxiliar o indivíduo, levando-o a ter interesse pela verdade. Sua alma, deve necessariamente criar um amor e sempre estar motivada por encontrar a verdade.


A sociedade apenas encontrará desenvolvimento quando a educação for moral.


Cria-se portanto um paralelo entre o amor, a moral e as virtudes. O homem apenas ama o outro, primeiramente pelos atributos físicos. Assim, desenvolve-se uma amizade genuína que é levada a despertar a virtude da temperança. Assim, passa a amar não apenas o individual, mas a sociedade como um todo. Neste caso, desenvolve outra virtude: fortaleza, ou seja, para Platão, para a defesa e aplicação da justiça nesta sociedade.


Diferentes níveis da alma são postos em harmonia e o intelecto é livre para buscar a essência da verdade a ascensão do ser em busca da verdade.


Compartilhando o pensamento de seu mestre, Sócrates, a virtude pode ser conhecida pelos indivíduos bem como é um trabalho direto da educação em reformar a moralidade convencional de uma sociedade em direção a verdade.


Mestre: O professor, possui o cargo de mestre, que em sua visão é o maior detentor do conhecimento, mas deve estar previamente preparado para tal, com o apoio da figura do filósofo-rei, que seria o governante de sua estrutura de Estado, sendo o que controla a educação, religião, leis e organiza os jogos. O filósofo rei não existe para uma figura de dominação, como os oligarcas, tiranos ou ditadores, mas sim para liderar os cidadãos a compartilharem sua “visão de conhecimento e amor”, enquanto sociedade.


O professor conseguirá apenas despertar o pupilo ao conhecimento e ao interesse pela verdade por meio do questionamento e da amizade. Ademais, por ser uma importantíssima função no modelo de sociedade platônico, jamais deverá escusar-se de suas obrigações públicas.


O Filósofo-Rei, possui seu direito de governar baseado em seu conhecimento, conquistado apenas pela “humildade e desinteresse”, sendo uma figura muito parecida com Sócrates.


Portanto, a educação aos olhos de Platão, era uma das esferas mais importantes para o filósofo, sendo o meio mais importante para adquirir a justiça, seja ela no meio da justiça individual ou coletiva, quando abordamos e analisamos a sociedade. A justiça, pode ser compreendida em mais de um significado. Neste caso, há de se fazer um paralelo do conceito de justiça com excelência, ou seja, pode ser adquirida com o indivíduo desenvolvendo as habilidades inerentes em sua alma.


Não podemos nos esquecer, que a união das classes, tais como camponeses, guerreiros, líderes, o Rei Filósofo, trabalhadores, devem todos estar em grande harmonia. Esta harmonia pode ser obtida com a garantia de uma educação igual para os indivíduos, começando desde mais tenra idade até o pleno desenvolvimento adulto, para que estes consigam competir entre si e atingir seus objetivos e galgar espaços na sociedade.


Uma educação digna e que supra as necessidades da sociedade nos modelos platônicos, bebe diretamente da fonte de Sócrates. Os indivíduos devem ser virtuosos e a virtude adquire-se com conhecimento, sendo este dividido em conhecimento individual; Conhecimentos dos atos próprios e conhecimento da ideia do bem, que contrasta com o mal.


Por fim, a falta de educação plena e igualitária aos cidadãos, criará uma instabilidade no Estado e na sociedade, uma vez que são liderados por pessoas desqualificadas para tal tarefa e necessariamente, segundo Platão, a democracia irá se transformar em uma nova forma de governo: Tirania, Oligarquia, Timocracia ou uma Falsa Democracia, uma Democracia com Anomalias.


Fontes: Platão – A República

Platão - Górgias

Platão - Íon

Platão - Protágoras


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